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Desde 1970 já haviam estudos publicados indicando não haver diferenças clinicamente relevantes entre amostras colhidas com e sem a observância de jejum para a dosagens que fazem parte do Perfil Lipídico. Há alguns anos, foi iniciado um movimento para a abolição da necessidade de jejum antes da colheita de amostras de sangue, sendo que o que acabou causando o maior impacto foi a recente publicação no European Heart Journal, em Abril de 2016, com a recomendação por consenso da European Society for Atherosclerosis em conjunto com a European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine da não necessidade de jejum para as dosagens do Perfil Lipídico.
A recomendação foi baseada em diversos fatos e estudos. Os fatos dizem respeito a que, além de o estado de jejum não corresponder ao nosso estado metabólico normal, pois não praticamos o jejum rotineiramente; isso pode não refletir o risco cardiovascular real. Além disso, também existe falta ou muito poucas evidências que demonstrem que as dosagens feitas em jejum seriam mais fidedignas e teriam maior reflexão clínica do que quando feitas sem jejum. Outro fato é que em alguns países, como a Dinamarca, o jejum já não é recomendado desde 2009, assim como no Reino Unido, aonde existe recomendação do UK NICE (The National Institute for Health and Care Excelence) desde 2014, para que as amostras sejam colhidas sem jejum nos testes para o programa de prevenção primária. Já as evidências científicas dizem respeito a diversos estudos conduzidos na Suécia, Estados Unidos, Canadá e Dinamarca. Neste último foram estudados cerca de 92.000 pacientes e o canadense com mais de 200.000 indivíduos, nos quais foram estudadas as diferenças entre amostras colhidas com e sem jejum e também avaliando o risco para a ocorrência de eventos cardiovasculares para ambos os casos. Além disso, deve-se levar também em consideração que em três dos grandes estudos que definiram a utilização de estatinas para a diminuição do risco cardiovascular, utilizando valores terapêuticos alvos de LDL-colesterol, foram utilizadas amostras colhidas ao acaso, sem jejum.
As conclusões da análise dos vários estudos é que não existe diferença clinicamente relevante entre as duas situações, com e sem jejum. Para a dosagem de Triglicerídeos, que seria o parâmetro mais sensível à ingesta de alimentos, a diferença máxima obtida foi de 26 mg/dL, enquanto que para as dosagens de Colesterol total, LDL-colesterol calculado, Colesterol remanescente (equivalente ao VLDL-colesterol) e para o Colesterol Não-HDL, a diferença máxima obtida foi de 8 mg/dL, para cada um dos parâmetros. Já para o HDL-colesterol, Apo-A1, Apo-B e Lp(a) não houve variação (Tabela 1).
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