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Existe uma fração muito pequena de DNA extracelular que permanece circulando na corrente sanguínea, chamado de DNA livre circulante, também conhecida pela abreviação em inglês como cfDNA. Há alguns anos, foram desenvolvidas técnicas por biologia molecular bastante sensíveis, capazes de capturar esta fração em amostras de sangue periférico. Em 2011, este tipo de metodologia começou a ser disponibilizado para a captura de DNA fetal, proveniente da placenta, em amostras de sangue de gestantes. Esta metodologia, chamada de Teste Pré-Natal Não Invasivo ou NIPT, tem se mostrado bastante útil na detecção de anomalias cromossômicas fetais, como a Síndrome de Down e outras aneupoidias e microdeleções cromossomiais; o que só era possível através de exames mais invasivos, com a realização de cariótipo do líquido amniótico.
A composição genética de tumores tem sido utilizada com bastante êxito para a tomada de decisão sobre qual o melhor tipo de estratégia terapêutica a ser tomada; entretanto, para a realização destes testes é necessário a obtenção de fragmentos dos tumores através de procedimentos de biópsia. Recentemente, as técnicas de captura de cfDNA passaram a ser utilizadas para a pesquisa das variabilidades genéticas provenientes dos tumores em amostras de sangue, teste este conhecido como “Biópsia Líquida”. Geralmente, cada mililitro de plasma sanguíneo contém alguns milhares de cópias de fragmentos de DNA, menos de 10% dos quais, em média, são derivados do tumor; o que é dependente da fase da doença. Estes fragmentos são considerados como subprodutos de apoptose e necrose, liberados no sangue durante o processo de desenvolvimento do tumor.
A detecção destas variabilidades genéticas tumorais na circulação sanguínea, tem mostrado algumas vantagens em relação ao exame feito em fragmentos de tecido. No sangue, a detecção de DNA proveniente de diversas partes do tumor é possível; diferentemente do que acontece quando o exame é realizado em fragmentos específicos de tecido, aonde só pode ser analisada uma porção do tumor. A composição genética nos tecidos tumorais não é necessariamente igual em todo o tumor; o que faz com que determinada característica, fundamentais para a escolha da terapia, possa não ser detectada, apesar de estar presente. Desta forma, a Biópsia Líquida apresenta vantagens conceituais em relação ao teste feito em tecidos, por estar menos limitada em relação à heterogeneidade espacial dos tumores. Outra grande vantagem, é o fato de ser menos invasivo, sem a necessidade de uma nova biópsia; além da facilidade em se obter uma nova amostra para repetição quando necessário.
Devido à sua natureza não invasiva, a análise cfDNA pela biópsia líquida também facilita o acompanhamento dos tumores, oferecendo grandes oportunidades para a identificação precoce de possível resistência ao tratamento. Por exemplo, os estudos mostraram que mutações que conferem resistência no Ca. de pulmão de células não pequenas (NSCLC) e no CCR, podem ser detectadas no plasma com boa concordância com dados de biópsia em tecido. Além dos mecanismos de resistência conhecidos, a biópsia líquida também oferece a possibilidade de identificar alterações genéticas previamente desconhecidas que podem estar associadas à resistência (9). A identificação precoce dos mecanismos moleculares à base de resistência adquirida a drogas, ajuda na orientação clínica para a adaptação de novas abordagens terapêuticas com o objetivo de suprimir a expansão dos clones que conferem resistência. Além disso, a análise da biópsia líquida tem o potencial de fornecer dados genômicos que permitem aos médicos implementar terapias alternativas antes que a resistência se manifeste clinicamente.
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